Amor não se compra no mercado

Por mais que vocês nunca entendam, essa foto diz muito mais sobre amor do que muitas outras.
Pode parecer bem óbvio o que vou dizer aqui, mas depois de dois anos e meio de relacionamento é invariável alcançar algumas conclusões e certezas quase inabaláveis.

A primeira grande conclusão que cheguei servindo de conselheira amorosa da vida alheia (nunca sei o que fazer da minha, vai entender?) foi que amor não se acha disponível em mercados. Ele não brota da terra como dente-de-leão e muito menos cai do céu em forma de gotículas. O nosso amor não pode ser originado nos outros. Nosso amor, aquele que sentimos forte e que não cabe apenas em nós, não pode ser encontrado nos outros. Ele nasce, vive e (por vezes) morre dentro de nós. É tudo questão de saber dividir. Repartir nosso amor com o outro é necessário, mas delegá-lo como originário e destinatário de outro coração exclusivamente é caminho para frustração.

E nem só de amor vive um relacionamento, já dizia minha vó. Quantas vezes não pegamos um ônibus e ouvimos senhorinhas falarem: "Nem só de pão vive o homem."? E nem só de amor vive um namoro, ou casamento, ou seja lá o que for. 
Não, não estou minimizando a importância do amor. Mas para chegar nele, no que é maior, uma série de etapas não pode ser queimada. Uma série de bases retangulares são necessárias para que o sentimento primeiro flutue acima de qualquer abalo sísmico. 

A primeira e mais urgente forma de amar é o respeito. Nunca se pode dizer que ama quando o desrespeito é mútuo, o sofrimento que você causa no outro se sobrepõe a suas reais aspirações de ser humano. Não se pode amar batendo repetidamente com uma luva de boxe no rosto do outro, esperando que o tal do amor resista. Ele murcha como pétala de flor, perde a cor lentamente e quando vamos ver, nosso amor é uma massa retorcida e marrom ao canto. Já é tarde demais...
Outra forma de respeito invariável é o respeito a si próprio. A humildade se inclui aí, quando você se respeita a ponto de entender que o que fez de errado precisa ser consertado para você ser completo para amar de novo. E amar a si mesmo está aí também!

Outra etapa para o amor é o afeto. Puxa, como você se sente extasiado só com a presença daquela pessoa! Uma olhadela rápida para ela faz seu dia cinza virar um azul ofuscante tão bonito e você tem vontade de guardar, secretamente, os ponteiros do relógio numa caixinha para evitar que girem. Você gostaria de ter máquinas fotográficas nos olhos, para registar o sorriso daquela pessoa na sua presença. E você guarda o cheiro dela num lugar particular da sua memória. 
Não digo sobre a paixão avassaladora nesse caso. Não, não trato o afeto extremo que descrevi como paixão porque... paixão é transitória. Acredito ter me livrado desses calores fugazes da paixão em boa parte do meu tempo (é gostosa enquanto acontece, mas primorosa quando deixa de ser a única obsessão da nossa vida), porém de vez em quando posso jurar que tem um cupido pronto com sua flecha logo acima da minha cabeça e puf! me espeta. E eu já nem sei mais quem está ao meu redor.
O afeto é algo muito duradouro e liberado em doses homeopáticas. Não é uma explosão: é uma dissolução. Lenta e contínua de felicidade nas nossas veias. 

A etapa seguinte consiste na admiração. Aquela pessoa que está do seu lado é tão magnífica! Você se sente impelido a sentir até certo orgulho por ela, as vitórias dela são suas também porque você já nutre um sentimento tão especial! Poucas coisas são mais gratificantes que ver os sonhos de quem você ama serem realizados por esforço e vontade dela, é realmente incrível. Se você chegou a esse nível de relacionamento, nesse momento do texto entrego-lhe uma faixa hipotética de "Parabéns! Você é capaz de amar (e merece tudo isso)".

Quando o afeto, a admiração e o respeito estão juntos formando uma tríade conjunta com diversas outras características positivas, você ama de verdade. Não é uma fórmula mágica. Não é 2 + 2 dando 4. Os outros atores da equação podem se alterar, mas nunca deve faltar o respeito, o afeto e a admiração. 

Voltando a falar de relacionamentos, todo e qualquer, desde você com seus pais, irmãos, primos, tios e namorados... Todo relacionamento é uma construção.
Contínua, contígua, unida e segura. Todos os dias você e a outra pessoa precisam utilizar das suas habilidades acima citadas para colocar um tijolo na sua fortaleza. Haverá dias em que uma onda vai bater, levar uns tijolinhos que você demorou um tempão para arranjar. Mas você deve ter calma e paciência de reconstruir tijolinho a tijolinho o que foi arrancado.
Obviamente algumas ondas são tsunamis. Cabe a você avaliar o estrago feito e dizer: "Vale a pena investir mais tijolinhos aqui ou vou acabar perdendo tempo, cimento e trabalho em vão?"

Eu, como talvez conservadora inata, ou uma grega-hebraica-abrasileirada para filósofos, não entenda nada. Sei lá, acho que manuais são muito rígidos, mas nada que uma leitura não abra nossa mente para a reflexão e meditação. Espero ter sido útil. 

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