Joana (02/03/2012)

Tinha mania de fotografias a pobre Joana. Desde que seu coração tomado de poeira passou a dar solavancos mais rápidos por causa de Armando, Joana colecionava desde de tampinhas de refrigerante a caixas de supermercado. Tudo lhe lembrava o homem amado.
Amado Armando! Mal sabia que ao virar a esquina todas as manhãs e trombar com uma Joana atabalhoada e entoar aquele "Bom dia" de sorriso bem dado, o olho ainda grudado pela remela da manhã, mudava todo um dia cinza. O centro da cidade cheio não estava tão lotado assim, o céu cinza ainda tinhas brechas azuis e ah!, não tem problema o aumento da passagem. 
Até que um dia Joana encontrou na rua, nesses golpes de sorte que o vento nos traz, uma foto de Armando. Era antiga o suficiente para ser relíquia, boa o bastante para ser guardada. Comprou um porta-retrato bem bonito e enfeitado, com todo cuidado colocou a figura endeusada lá dentro. Entre vidros ele estaria seguro e seus olhos guardavam o mesmo brilho do "Bom dia". E a fotografia estava sempre na melhor estante de Joana.
Armando passava todos os dias. Todos os dias Joana o via. Diariamente um "Bom dia". O trânsito parado fluía, o vazamento de água era somente gota e a enchente um pretexto para andar de bote para Joana, tamanha animação com o sorriso do moreno.
Um dia de sol, Armando não veio. Joana esperou o olhar costumeiro, mas recebeu em troca ônibus lotado, aumento da passagem que dói no bolso e tempestade interior.
Outro dia, Armando não apareceu.
Outra noite, onde Armando se meteu?
Disseram que ele mudou, senhora, semana passada. Foi pro interior ter a vida facilitada, andava procurando um descanso da cidade grande.
Passou outro dia. Passou um ano, passaram várias tempestades e aumentos de passagem.
A foto continuou figurando a estante por mais um tempo. Depois foi para a mesinha atrás da televisão de caixa, depois para o meio de uma papelada. E depois? Nem Joana sabe dizer.

                                                                                          






Esse texto é o primeiro de uma tag aqui do blog. Eu costumava escrever e com o tempo esse hábito perdeu-se. Estou voltando aos poucos e enquanto os novos não estão vindo, espero que vocês curtam os antigos. Há mais de duzentos deles e se vocês realmente se interessarem virão mais. Espero mesmo que gostem. Comentem os textos, ok? É importante para um escritor que esse tipo de coisa aconteça. Muito obrigada pela paciência. Milhões de beijos pra vocês.

AH, E FELIZ NATAL!!

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