O movimento dos trens era observado com audácia pela ruiva. Sentada em um banco da estação e segurando um bloco de anotações antigo, deixava que a caneta seguisse seu caminho. Um fluxo direto, mente-papel. A caneta apenas instrumento.
"Deixe-se levar pela metrópole."
Mais um trem chegava, outro partia. A vida era asssim, havia sempre alguém saindo para dar espaço aos novos. Uma anotação.
Luzes que se apagavam.
A estação estava velha.
Seu coração frágil tornara-se velho. "Uma menina tão jovem!" era o que diziam. Cansada de iludir-se ela estava. Outra anotação.
Pessoas que passavam. Estranhos à primeira vista, um sorriso ou um encontrão, nunca mais se veriam. Continuariam estranhos.
A caneta novamente em ação sobre o papel amarelado.
"
The joke is on you, this place is a zoo"
A ruiva continuava a observar a plataforma. O banco foi tomado de pessoas à espera de um próximo trem. Ela assistia à vida admirada.
O senhor ao seu lado a olhava torto. "Não vai oferecer seu lugar para alguém de mais idade?"
Mas ela continuava sentada. Seu trem chegou. "Não vou voltar para casa hoje."
"Não vou tomar nenhuma decisão hoje."
Os portões da estação se fecham. Não há para onde correr.
"E se eu escolher tomar o trem errado?"
Levanta-se e segue com as anotações.
"It's hard to explain."