Eu sabia que viria. Poupei posts sobre o Lulu porque imaginei que mais dias ou menos dias trariam o revanchismo barato de um aplicativo com os mesmo objetivos (se não piores) do dito cujo, só que ao contrário. E eis que surge o anúncio do Tubby. Mas vamos lá, você sabe quais são esses aplicativos?
Lulu é um aplicativo desenvolvido para celulares com programa operacional iOS e Android. Ele está disponível gratuitamente e isso não quer dizer que deva-se baixar. Sabem o que ele faz? A partir de hashtags mulheres anonimamente avaliam homens, dando uma nota a eles. Homens que tem o perfil do facebook diretamente vinculado ao aplicativo e muitas vezes nem sabem que estão lá. #TresPernas, #NãoLigaNoDiaSeguinte, #SóDáUma. Há as mais leves como #CurteRomeroBritto e #EnergyzerBunny (que seria o cara com muita energia, tipo aquele coelhinho do comercial de pilhas) dentre outras. “Ah, mas é inocente, as hashtags são leves”
Até concordo que as hashtags não são tããããããão pesadas e alguns caras até curtem (Ops, super-ego ativado! E não é o da psicanálise). Mas qualquer aplicativo de coisificação humana deveria ser imediatamente repudiado pela sociedade. Voltamos aos moldes escravistas no Brasil, em que homens e mulheres eram avaliados por dentes, força muscular ou capacidade de procriar maior ou menor apenas por serem negros? Hoje em dia não tem o lance da cor de pele para os aplicativos (porque seria o cúmulo), mas a ideia da exposição da “carne humana” é a mesma. Pera lá, pessoal! O século é o vigésimo primeiro da era cristã e até onde eu sei, o avanço tecnológico não nos deixou mais burros e desumanos. Ou deixou?
Mas foi a vez de quem dizia achar o Lulu um bom tapa na cara da sociedade machista (o que, na minha opinião, não é uma resposta) morder a língua. Criaram o Tubby, para ser lançado dia 04/12 nos mesmos moldes do Lulu só que com uma diferença crucial. A personalidade da pessoa não é avaliada (como se apenas isso não fosse horrível). É a performance sexual dela que vai para a tela de milhões de pessoas! Uma coisa que deveria ficar entre 4 paredes atravessa a rede e aparece em forma de “bits” de informação num celular a milhares de quilômetros. Opressão tecnológica agora também? Já não basta os milênios de subjugação sexual e psicológica que as mulheres sofreram e sofrem? Avaliadas com hashtags como #EngoleTudo e #GostaDeApanhar? Mais do que isso: mulheres avaliadas através de notas apenas por causa do sexo que gostam de fazer? Acho que o mundo alcançou a escória definitiva e o que vemos são as cinzas da dignidade das pessoas. Ok, acho que ainda tem salvação.
E você não ter feito nada com ninguém não significa que seu nome não vai aparecer. Há tanta gente ruim no mundo, não banquem os inocentes. De verdade. E aquele cara que você se recusou a ficar numa noite porque ele tem bafo? Vai que ele está com raivinha ainda. Tem gente que não esquece… Ninguém disse que precisava ser verdade o que escrevem lá e muita calúnia e difamação podem surgir dali. O lado bom é que existe a justiça e um processo não cairia nada mal nesses casos (ou em todos, você que escolhe!)
Há a opção no Facebook de não permitir que aplicativos de terceiros acessem as informações do seu perfil, mas aí você é bloqueado no Tinder e afins. Boatos dizem que aquelas meninas que tentam retirar seu nome do Tubby, por ele ainda não ter sido lançado e não ter nenhum documento de privacidade, acabam através dos passos permitindo o livre acesso do aplicativo às suas informações. Então todas nós acalmemos nossos corações até o lançamento oficial do dito cujo (que está em teste para alguns usuários) e nos direcionemos assim que for possível para a exclusão de nossos nomes e a consequente denúncia do Tubby.
O revanchismo raso na criação do Lulu não é a saída para uma sociedade mais igualitária. Eu, pelo menos, só vejo uma: respeito mútuo. Apenas a consciência e não a criação de novas formas de opressão contra homens tão ruins como nós, mulheres, sofremos pode trazer um horizonte novo aos nossos futuros filhos e netos. Espero ainda viver numa sociedade que não pense que apenas voto para mulheres é mais do que suficiente. Quero ser tão respeitada quanto os homens, não ser medida pela roupa que uso ou pelo que gosto e sinto. Quero ter minha liberdade de escolha independente da visão de machistas e feministas exacerbadas.
A sociedade que eu quero é a sociedade em que todos nós possamos ser nós mesmos, além de notas e avaliações estúpidas e anônimas.